domingo, junho 28, 2009

Michael Jackson Rest in Peace




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Na quinta-feira, dia 25 de Junho pelas 20h (hora portuguesa) morre um ícone, uma lenda ex-viva, o Rei da pop, Michael Jackson. Vítima de uma paragem cardíaca, provavelmente devido a um cocktail medicamentoso, as quais ele tomava por razões desconhecidas: há associações a um médico duvidoso, um Dr. Thom Thom que lhe receitava cocktails de 7 medicamentos com 2 analgésicos, segundo a ex-ama. Contudo, foi o seu verdadeiro médico que o viu nos seus últimos momentos e não parece ter tido culpa no sucedido.

Enfim, suspeitas, conspiração, talvez frivolidades, desconhecido e incerto: Michael Jackson morre como viveu a sua vida adulta, na obscuridade esotérica e incompreensão.

Para falar de MJ é preciso diferenciar o homem da obra, o que o torna à partida uma excepção. Mas não vou aqui fazer uma retrospectiva da sua vida, a qual mesmo findando agora aos 50 anos, já fez correr rios de tinta, horas de puro prazer auditivo, assim como movimentos de dança.

Michael é vedeta à 39 anos. Começou a sua carreira aos 5 anos onde liderou com os seus irmãos, formando os Jackson Five, um grupo infantil fabricado nos anos 70 que tinha tanto fãs brancos como negros, algo pouco usual na altura. Com eles gravou 4 álbuns desde os seus 11 anos.


Mas foi com a carreira a solo iniciada em 1979 com a mega-produção de Quincy Jones que MJ disparou rumo às estrelas. O álbum era o
Off the Wall e foi um hino ao género Disco assim como jazz pelos altos valores de produção, mas acima de tudo um pop musculado, a surgir como uma espécie de cereja no topo do Disco, dado que os anos 80 acabaram por pôr esta música na gaveta (agora já devidamente restaurada e polida, no chamado nu-disco).










Logo desde o início, do alto dos seus 21 anos, trauteou e escreveu Don't Stop 'till You Get Enough, aquela que para mim é uma das suas melhores músicas e que lhe valeu um Grammy. A voz dele ainda não era perfeita, mas já tinha uma expressividade e alcance excelentes. Voz de menino, que nunca perdeu, até agora...

Precisamente em 1979, Michael parte o nariz numa complexa rotina de dança e é submetido a uma rinoplastia que resultou em dificuldades respiratórias, problema que o afligiu desde então e que, aparentemente, nenhuma das inúmeras intervenções cirúrgicas que se seguiram não solucionaram, afectando a sua carreira. Não sei até que ponto os seus complexos quanto à sua aparência após a sua primeira cirurgia não terão despoletado as variadas idas à faca.

Contudo, com problemas respiratórios ou não, em 1982 Michael lança
Thriller, o álbum mais vendido de todos os tempos. É difícil superar algo assim, por isso vou apenas cimentar este conceito com alguns números:



  • 109 milhões de cópias vendidas em todo o mundo, sendo que 5 milhões destas foram nos últimos 5 anos
  • Sete das suas nove canções saíram como single e entraram no top
  • Parte do seu sucesso deveu-se ao investimento em videoclips, em que o de Thriller, um video de 13 minutos, marcou o primeiro video de um negro na MTV, tendo também os seus vídeos de Billie Jean e Beat it o molde para a produção conceptualizada dos videoclips daí em diante
  • Compôs 4 das músicas
  • Teve 37 semanas no top norte-americano
  • Teve 4 anos a habitar os tops europeus

Sei lá, depois seguiu-se Bad, Dangerous, a Black and white, Man in the Mirror, Smooth Criminal e tantas, tantas outras...Embora muito bons, excelentes músicas, como álbum o seu legado tinha atingido o expoente máximo.

Eu orgulho-me de ter nascido no ano em que o MJ fez o moonwalk pela primeira vez e
Billie Jean nos invadiu o imaginário com um sujeito de pé de gesso brilhante, casaco preto cintilante, luva branca também brilhante a planar enquanto andava. Um artista completo, com músicas ritmadas e dançáveis, mas com conteúdo, por exemplo Billie Jean é sobre um fã obsessivo que alega que é pai de um filho dela (billie Jean). Estranho, mas a forma acaba por camuflar o conteúdo. E o frenesim inabalável de Wanna be startin' somethin' é sobre a pressão dos media. Nota-se já em tenra idade a pressão dos media sobre ele.

O Michael Jackson trouxe a dança para o sexo masculino de certa forma, assim como para a comunidade negra e porque não também aos caucasianos? Mostrou-nos o impacto de coreografia de dança em grupo, da cinefilia associada a música, mostrou que um artista pode cantar e dançar em alto nível.

Michael é um ícone porque é único e projectou a sua identidade irreverente em todos nós, mesmo que não gostássemos das roupas militares, dos corpetes, das meias brancas, do sapatinho de baptizado, do complexo peter pan, da voz, sei lá, ele é um homem de espéctáculo, um Showman no melhor sentido da palavra.
Ele reinventou a música à sua imagem, à sua ambição. Há a pop do MJ, rei da pop e há o resto da música pop, não pode ser comparada. Todo o conceito de boysband e girlsband veio deste one-man e certamente que as Britneys e Beyoncés tiveram muito caminho desbravado pelo Michael Jackson.

Lembro-me quando os meus pais disseram que iam ver o Michael Jackson a Alvalade em 1992, tinha eu 9 anos, e portanto não me levaram. Era muito novo para ficar chateado por não ir a um concerto, mas 1 ou 2 anos depois já ouvia a música dele e sempre pensei que vê-lo ao vivo seria o derradeiro espectáculo, história para os netos, motivo de escrever um livro, sei lá...e agora sinto que uma parte de mim decaíu para um nível de existência imperceptível, pois a imagem do MJ numa criança é muito forte. É difícil não verter uma lágrima por alguém cuja expressão, quer musical quer visual, nos leva automaticamente ao rejúbilo sob a forma de canções, de movimentos, de gemidos extasiados e danças incomparáveis e indeléveis.

Por tudo o que criaste, inevitavelmente por tudo o que tu és, tens garantido um lugar na posteridade e não serás esquecido. A prova do tempo está dada, o século muda, mas o sublime não envelhece, não se torna vinagre. Há música que nos rejuvenesce, e a tua é uma delas.

Não quero saber da vida privada do MJ, das excentricidades, suspeitas fundadas ou infundadas, mas tenho pena que a sua Neverland não seja mesmo a do Peter Pan, pois assim não teríamos de te ver partir.

Vai em paz, que a Obra transcende o Homem.